Universidade Nova: Novas Exigências, Novas Oportunidades
Definitivamente há reconhecimento da importância da fortuna humana, especialmente do conhecimento científico (praticado por cientistas), civil e humanístico, para o desenvolvimento da humanidade em todos os seus mais diversos aspectos, pois de natureza intrínseca e vital. O fenômeno da globalização estabeleceu um marco consolidado entre as economias, e neste particular, da relação plural entre economia e educação, fundamentada na qualificação da vida e seu usufruto.
Cada vez mais os mercados se aproximam de quem produz conhecimento e vice-versa. As matrizes das economias: EUA/ Canadá, Tigres Asiáticos, China Japão, Índia e América Latina (ALCA e Mercosul), com o aprofundamento da globalização, cada vez mais precisam de recursos humanos altamente qualificado. Outrossim, estabelece-se um paradoxo: as economias que mais precisam crescer são as que apresentam maiores dificuldades para tal em função da apuração de índices insatisfatórios: alta evasão e repetência, currículos fossilizados de concepção fragmentadora e bitolada do conhecimento, sobrecarga de aulas, especialização precoce, pouca articulação entre graduação e pós-graduação, baixos investimentos, dentre outros.
O caso brasileiro é emblemático, pois corre-se o risco de ficar atolado como se estivesse ainda no século 19: fragmentado, departamentalizado, adestrador, elitista. É inexorável: temos que contemporaneizar o Brasil, descolonizando-o de ideologias mantenedoras da inércia, da intolerância e do subdesenvolvimento, porém com o aporte de recursos maciços. Temos, assim, que qualificar o Mercosul, a América Latina, às grandes economias para o sentido da competitividade garantindo qualidade de vida com ampliação da inclusão social.
O processo de Bolonha tem orientado para a transformação deste quadro, porém para a União Européia. No Brasil há uma discussão contemporânea: a Universidade Nova, de caráter mais genético aos aspectos acadêmico-curriculares, apresentando novas exigências para as novas oportunidades no bojo da Reforma Universitária e no contexto da alteração da cultura organizacional, para além da organização do sistema de educação superior. Esta consiste em ampliar o acesso às Universidades, rompendo com o paradigma do vestibular, com mais cursos noturnos, abrindo mais oportunidades de trabalho, emprego e renda, questionando o tabu entre produção do conhecimento e mercados, explorando a educação à distância (EAD) remodelando os aspectos formativos para o trabalho, para a produção de patentes, de promoção da ciência, tecnologia e inovação.
Assim, as discussões em torno da temática Reforma Universitária apresentam torque profundo da sociedade brasileira, pois relacionada com aspectos substantivos do desenvolvimento. A Universidade Federal do Piauí, consciente de seu papel na sociedade, promove sensibilização e discussão entre reforma e essencialidade quanto à remodelagem do acesso, da permanência, da qualificação da educação superior (ensino, pesquisa e extensão), com um modelo de gestão que possa dar sustentabilidade e maior dinâmica diante de quadro problemático.
O que não devemos aplaudir é o medo às mudanças já que o atual tem embotado o nosso desenvolvimento de forma tão perversa à maioria ou àqueles que pagam a conta. As responsabilidades se agigantam a cada dia, porém a sociedade quer avaliar a institucionalidade, pois fundamental para melhores dias. A exigência por um outro perfil técnico-profissional tem que ser equalizada no seio das matrizes curriculares avançando a idéia dos bacharelados interdisciplinares, com currículos flexíveis permitindo ao aluno escolher disciplinas de diferentes áreas, de acordo com vocação e interesses próprios, sendo este sujeito de sua própria formação (geral, aberta e flexível), estabelecendo uma formação ampla, porém diversificada, com grau de generalidade e conhecimento da fortuna humana, do ponto de vista sócio-cultural, em seus mais diferentes aspectos: história, filosofia, ética, lógica, pensamento matemático (incluindo computação e informática), cidadania, política, saúde e artes, ampliando a visão de mundo, dando chance à mobilidade na globalidade.
Quebrar uma visão compartimentalizada e estanque do conhecimento não é uma tarefa fácil, pois arraigada, entretanto é preciso ter a coragem de enfrentar tais problemas de frente. Temos certeza que com o debate sereno e firme encontraremos o nosso caminho: uma alternativa viável, inovadora e competitiva para a universidade brasileira.
Luiz de Sousa Santos Júnior é reitor da Universidade Federal do Piauí