Adolescência, drogadição e políticas públicas : recortes no contemporâneo
por RAUPP, Luciane Marques em
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Instituição de Origem |
Estado Instituição |
Instituição Responsável |
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional |
Rio Grande do Sul |
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional |
O abuso de álcool e outras drogas por adolescentes é considerado, atualmente, um grave problema de saúde pública. Devido à complexidade que envolve essa questão, considera-se que a mesma extrapola o campo da saúde pública, exigindo um olhar interdisciplinar, tanto na investigação de suas condições de surgimento, quanto na produção de respostas de enfrentamento. Para lidar com essa problemática, faz-se necessário compreender a adolescência de hoje como uma operação de passagem (Rassial,1997) e uma “crise psíquica” (Melman, 1995), na qual a busca por referências ocupa um lugar fundamental. Atualmente, esse processo se desenvolve em um contexto social no qual os valores vigentes se colam a padrões de consumo marcados pelo individualismo e pela instantaneidade, confundindo as novas gerações pela falta de referências (Bauman, 1998, 2001; Milnitsky-Sapiro, 2005). Nesse contexto de hedonismo, consumismo e referenciais voláteis, o abuso de drogas pode surgir como um caminho para o alívio das tensões inerentes ao processo adolescente e como uma fuga da invisibilidade pela via do consumo, realizando simbolicamente o ideal de nossa sociedade (Conte, 1998). O presente trabalho tomou serviços de tratamento a adolescentes usuários de drogas como objeto de pesquisa, refletindo sobre as concepções que norteiam suas práticas e a forma pela qual as políticas públicas que prescrevem o campo se apresentam, ou não, em seus programas. O contexto destas instituições, suas práticas e referenciais são problematizados, juntamente com trechos de entrevistas nas quais se buscou “dar voz” aos adolescentes em tratamento nesses locais, visando saber o que pensam e como avaliam o tratamento recebido. Também foram entrevistados profissionais que trabalham nesses serviços. Como método de pesquisa utilizou-se a Descrição Etnográfica da instituição, diálogos informais, observações e consultas documentais (Milnitsky-Sapiro, 2001). Para análise dos dados procedeu-se à Análise de Conteúdo (Bardin, 1977; Milnitsky-Sapiro, 2001) do material consultado e das narrativas dos entrevistados. Os resultados desse estudo indicam uma defasagem entre o que é preconizado pelas políticas públicas e as práticas dos serviços de tratamento. Dos três serviços pesquisados, apenas um se adequava às orientações das principais políticas que regulam o setor, apesar de possuir limitações principalmente relacionadas à escassez de recursos para qualificar e ampliar o alcance de sua atuação. Como conclusão, aponta-se o fato de que as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Sistema Único de Saúde, entre outras, continuarão na instância teórica enquanto não houver propostas de adequação dos serviços e de capacitação dos profissionais que trabalham com esse público, visando qualificá-los a atender as especificidades do processo adolescente no contexto atual.